Análise feita por geógrafo aponta para outras rochas condenadas no cume e alerta sobre Segurança e Preservação do topo do sul do Brasil
No cenário imponente do gigante do sul, um evento inesperado ecoou pela comunidade de montanhistas no fim de dezembro: o deslizamento no cume do Pico Paraná. Um bloco gigantesco, com uma área considerável entre 15 a 20m², desprendeu-se do cume, na queda e com os prováveis impactos que foi sofrendo dividiu-se em quatro partes que despencaram da montanha. Um desses fragmentos de granito atingiu em cheio a trilha e formou uma caverninha perigosa, no acesso ao último grampo. É o que aponta um raio-x feito no topo.
Esse fragmento se acomodou sobre um floramento rochoso frágil, mas não está seguro, o bloco vai se mover novamente, é questão de tempo”, enfatiza Rafael.
A análise feita pelo geógrafo e guia Rafael Trentin, revelou um quadro preocupante. A identificação de infiltração prévia no ponto do descolamento demonstra que o desastre foi, de certa forma, anunciado. A coluna que se soltou já estava saturada, movendo-se silenciosa e gradualmente até o incidente. Por sorte não havia ninguém na trilha na hora do deslizamento, embora muita gente insista em frequentar as montanhas fora da temporada.
Ainda durante a inspeção feita recentemente no cume do Pico Paraná, Rafael identificou outras situações semelhantes, que exigem ações imediatas para prevenir futuros acidentes. Uma das preocupações iminentes é um grande bloco rochoso, localizado exatamente na última curva de acesso ao cume, ponto de passagem obrigatória para todos os visitantes. Por isso Rafael aponta a mudança mais segura para este ponto:
A tendência ao meu ver é instalar grampos e fazer acesso ao cume pela parede onde ocorreu o deslizamento, evitando a passagem pelo outro ponto condenado.
Um olhar de quem acompanhou as mudanças ao longo das últimas décadas
Outra voz, a do médico aposentado Afonso Diniz, ecoa preocupações mais amplas. Desde os anos 60, Diniz e seus amigos têm testemunhado mudanças substanciais no Pico Paraná. Além das transformações naturais, eles temem que a crescente e descontrolada visitação à trilha e ao cume esteja acelerando essas mudanças.
A evolução das condições finais da trilha é notável. Imagens de antigas escaladas, compartilhadas com veteranos dos anos 60 e 70, evidenciam uma mudança marcante. O terreno, antes desafiador mas escalável, agora é marcado por correntes e grampos, onde o abismo se tornou mais evidente, destaca Afonso.
O relato de Diniz aponta para um processo acelerado de erosão, potencializado pelo excesso de visitantes. A preocupação com a preservação da natureza e a manutenção das condições seguras para os praticantes de montanhismo é premente.
O deslizamento no Pico Paraná é um chamado à ação. Não apenas para as autoridades responsáveis pela segurança dos visitantes, mas também para a comunidade de montanhistas. A responsabilidade coletiva pela preservação desses ambientes naturais é fundamental. Devemos repensar não apenas a segurança das trilhas, mas também a quantidade e o comportamento dos visitantes.
O deslizamento no cume do Pico Paraná nos mostra mais uma vez que o desafio vai além da conquista do cume; envolve a preservação desses espaços, garantindo que as gerações futuras possam desfrutar da majestade deste gigante. É um convite para repensarmos a forma como interagimos com esses ecossistemas frágeis e seus últimos redutos mais preservados, encontrando um equilíbrio entre a experiência humana e a proteção da natureza.
A Salto Alto Montanhismo apoia a conscientização e ações para a preservação do Pico Paraná. Junte-se a nós nesse compromisso por um montanhismo seguro e sustentável, onde o respeito à natureza caminha lado a lado com a paixão pela aventura.
Que este incidente seja um ponto de virada para uma prática mais responsável e cuidadosa, garantindo a preservação deste tesouro natural que é o Pico Paraná.
Atenciosamente,
Equipe Salto Alto Montanhismo
Esperamos que este artigo ajude a destacar a importância da segurança e preservação desses ambientes naturais, motivando ações conscientes por parte dos praticantes de montanhismo.
Respostas de 2
Parabéns pela matéria.
Realmente precisamos conservar e preservar nossas montanhas, somos abençoados com tantas montanhas lindas no nosso PR e a natureza que é perfeita. Levar o lixo, ser consciente e também uma limitação de pessoas por período pelos órgão públicos ajudaria bastante..
Verdade Ale, estamos cobrando essa ação dos órgãos responsáveis.